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Não sei precisar há quanto tempo flerto com um estilo de vida mais minimalista. Acho que eram meados de 2014 quando li o livro “A mágica da arrumação: A arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida”, de Marie Kondo. Confesso que não amei a leitura em si, mas com certeza foi o incentivador de um grande dia de arrumação em casa. Na época, morava em um apartamento de 60 m², e já estava exausta de praticar jogo de tetris em casa. Não lembro quantas sacolas eu tirei para doação, mas foram vários sacos grandes que partiram naquele dia. A sensação foi de alívio, alegria e leveza.
Anos se passaram e a bagunça me pegou de novo por diversos motivos: vida corrida, muito trabalho, falta de conexão com a minha própria casa e, nos últimos anos, a chegada de uma criança. Já faz anos que planejo um novo dia de arrumação na minha vida, mas a verdade é que tenho alguns pares de sapatos em uma caixa de mudança que não mexo há pelo menos 2 anos. Recentemente, ouvi em um podcast sobre o livro “Casa arrumada, vida leve: o poder da organização”, de Nalini Grinkraut. Ao ler o livro, revivi a sensação boa que tive naquele emblemático dia e tive a oportunidade de refletir sobre as minhas últimas escolhas.
Nós como pais queremos dar o melhor para os nossos filhos. Estamos sempre em busca dos melhores brinquedos para garantir seu pleno desenvolvimento cognitivo e motor. Além disso, há os inúmeros presentes e outros itens de vestuário, higiene, utensílios e mobiliário, que vão abarrotando nossa casa de objetos. Mas a verdade é que o consumo excessivo não é uma boa prática para ser estimulada nem por nós nem por nossos filhos. Além disso, ter muitas escolhas acaba paralisando nossas crianças e faz com que elas não explorem cada objeto em sua potencialidade. Qual pai nunca experimentou o sentimento de namorar um tempo a aquisição de um excelente brinquedo para o filho e se frustrar porque a criança se interessou pelo brinquedo por poucas semanas e o resultado acabou sendo mais acúmulo em casa, além do dinheiro gasto?
Mas a verdade é que todo bebê humano nasce com uma ânsia pela novidade ou “neofilia”. Em um ambiente rico, variado e amistoso, todos os bebês passam horas provando novas coisas e explorando diferentes possibilidades. Este amor natural pelo novo é crucial para o desenvolvimento dos bebês, estimulando sua criatividade e ajudando na ampliação do seu repertório.
O ambiente de bagunça e caos rouba a nossa energia e tira o nosso bem-estar. A possibilidade de circular e compartilhar objetos é uma alternativa que temos para nos ajudar neste processo de retomada do controle da nossa própria vida, sem deixar de oferecer um ambiente rico e variado para nossos filhos. Estamos em constante mudança e deveríamos manter apenas aquilo que ativamente escolhemos, que se correlaciona com quem somos hoje e que nos proporciona sensação de bem-estar. Todo o resto são experiências e que bom que temos a opção de escolher sempre novas possibilidades e sensações.
Referências:
- Morris D. Meu bebê: a incrível capacidade de evoluir tanto em tão pouco tempo. 1ª ed. São Paulo: Larousse do Brasil; 2008. 200 p.
- Grinkraut N. Casa arrumada, vida leve: o poder da organização. 1ª ed. São Paulo: HarperCollins Brasil; 2022.
- Kondo M. A mágica da arrumação. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante; 2015.