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Tempo de Florir

Criança segurando uma tulipa vermelha, simbolizando o florescimento e a conexão com a natureza
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Estados momentâneos de tédio são comuns na vida diária, mas algumas pessoas sentem mais tédio do que outras ou são incapazes de tolerá-lo. O tédio é uma emoção negativa que foi descrita como o desejo de se engajar em uma atividade satisfatória, mas sem conseguir fazê-lo. Contudo, o tédio tem um potencial emergente inerente para a criatividade e para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

 

A abordagem da cognição criativa é baseada nas suposições de que a criatividade ocorre como um processo de alternância flexível entre o pensamento analítico e o pensamento inconsciente. Isso é acompanhado por atenção desfocada e por uma atividade constante, mas reduzida (baixa excitação) de várias áreas do córtex que são simultaneamente conectadas e sincronizadas. A base neurobiológica para isso é a rede de modo padrão, um sistema neurológico que é ativo quando uma pessoa está dormindo, sonhando ou relaxando, ou quando os pensamentos ocorrem de maneira inconsciente e livre, sem censura. O tédio já foi demonstrado como relacionado a uma ativação dessa rede de modo padrão.

 

Os episódios aleatórios de pensamento que surgem de momentos de tédio, relaxamento ou banalidade potencialmente permitem o desenvolvimento de ideias e processos criativos. Quando deixamos uma criança sozinha para explorar e preencher seu tempo, ela desenvolve curiosidade, habilidades de resolução criativa de problemas e pensamento divergente, que a ajudarão a prosperar. É preciso um pouco de solidão e tempo livre para brincar, sonhar acordado e imaginar. As crianças não podem ser totalmente curiosas e criativas se estiverem sendo transportadas sem parar de uma atividade para outra.

 

A prosperidade é um processo de construção. Precisamos garantir uma infância segura, amorosa e estruturada, mas também é imprescindível fomentar o desenvolvimento de autonomia, competência e capacidade criativa. O caráter é um conjunto de traços psicológicos, morais e comportamentais que definem uma pessoa e orientam suas ações e decisões. Ele é o que constrói força interior, genuinidade e integridade. Quando as crianças estão perdendo pontos fortes de caráter, como otimismo, curiosidade, empatia e perseverança, seu desenvolvimento é incompleto. Por isso, é fundamental cultivar os talentos naturais das crianças e abrir espaço para o seu pleno florescimento.

 

Referências

 

ANDERSON, A. J.; PERONE, S. The kids are bored: Trait boredom in early childhood and links to self-regulation, coping strategies, and parent-child interactions. Journal of Experimental Child Psychology, v. 243, p. 105919, jul. 2024.

 

ZEIßIG, A. Boredom as the originator of a desideratum – reflections on the creative and suppressive consequences of boredom in the school context. Frontiers in Sociology, v. 8, p. 1214069, 24 ago. 2023.

 

BORBA, M. Thrivers: The Surprising Reasons Why Some Kids Struggle and Others Shine. New York: G.P. Putnam’s Sons, 2021. 336 p.