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O Mercado de Trabalho Feminino

Foto de Claudia Goldin numa biblioteca, ganhadora do prêmio Nobel por suas publicações sobre o mercado de trabalho feminino
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No artigo de hoje, gostaria de fazer uma reflexão sobre o trabalho da professora de Harvard Claudia Goldin, vencedora do prêmio Nobel de economia de 2023, que permitiu grande avanço na compreensão da situação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos anos. Sua pesquisa fornece uma história abrangente da desigualdade de gênero no mercado de trabalho nos últimos 200 anos.

Antes do trabalho de Goldin, os economistas pensavam que o crescimento econômico levava a um campo de jogo mais equilibrado. Na verdade, Goldin mostrou que a Revolução Industrial tirou as mulheres casadas da força de trabalho, à medida que a produção se movia de casa para a fábrica. Em uma pesquisa publicada em 1990, ela demonstrou que foi somente no século XX, quando os empregos no setor de serviços proliferaram e o ensino médio se desenvolveu, que o padrão mais familiar surgiu. A relação entre o tamanho das economias ocidentais e a participação feminina na força de trabalho é em forma de U — um resultado clássico de Goldin.

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Crédito: The U-shaped curve. © Johan Jarnestad/The Royal Swedish Academy of Sciences.

Suas descobertas também mostraram que a diferença salarial entre gêneros diminuiu em surtos. Os salários das mulheres aumentaram em relação aos dos homens em 1820-50 e depois novamente em 1890-1930, antes de disparar em 1980-2005.

Para a queda do final do século XX, Goldin enfatiza o papel das expectativas. Se uma jovem tem mais poder de decisão sobre quando e se terá um filho, e mais confiança de que as mulheres podem trabalhar em uma ampla gama de empregos, ela pode investir mais no futuro, como permanecer na escola por mais tempo. Em um trabalho publicado em 2002,  Goldin e Katz detalharam o exemplo da pílula anticoncepcional, que foi aprovada em 1960 e deu às mulheres mais controle sobre as decisões sobre os filhos. Entre 1967 e 1979, a parcela de mulheres de 20 e 21 anos que esperavam estar empregadas aos 35 saltou de 35% para 80%.

Contudo, desde cerca de 2005, a diferença salarial quase não se alterou. Em um livro publicado em 2021, Goldin culpa empregos “gananciosos”, como ser consultor ou advogado, que oferecem retornos crescentes para longas (e incertas) horas. Ela explica como esse trabalho interage com a chamada penalidade parental. “Digamos que há dois advogados, igualmente brilhantes”, explica Goldin. Quando as crianças chegam, “eles percebem que ambos não podem trabalhar essas horas exaustivas”. As mulheres passam mais tempo criando os filhos, e é por isso que a disparidade salarial entre gêneros tende a aumentar após o primeiro filho. Ambos os parceiros poderiam assumir empregos menos exigentes, mas então o casal ganharia menos como uma unidade, ela explica.

Atualmente, segundo Goldin, as disparidades salariais persistem não por causa da discriminação direta do empregador. A causa mais importante é que as mulheres restringem suas carreiras como parte de uma resposta familiar racional aos mercados de trabalho, que generosamente recompensam qualquer um, homem ou mulher, que esteja disposto a manter o Goldin chama de “emprego ganancioso”. Essas são funções que exigem horas longas e imprevisíveis. Os pais precisam de alguém de plantão em casa caso uma criança adoeça e precise ser buscada na escola, ou precise de torcida em um show ou partida de futebol. Isso é incompatível com um trabalho ganancioso, que exige estar disponível para demandas de última hora de um cliente ou chefe. Ninguém pode fazer as duas coisas. A resposta racional é que um dos pais se especialize em trabalho ganancioso lucrativo, e que o outro — normalmente a mãe — priorize os filhos. 

A chance deveria ser a mesma: em 50% das famílias, a mulher assume o emprego ganancioso, e nos outros 50%, o homem. Mas, na verdade, há muitos poucos casos em que isso acontece. Geralmente, o homem assume o emprego ganancioso. Precisamos considerar também as tradições e as normas sociais que fazem com que essa seja a maneira usual de agir. Algumas pesquisas mostram que, mesmo quando os pais dizem para a escola ligar para o pai, eles ligam para a mãe. Está arraigado. Esse casal poderia arrumar empregos equivalentes (os dois mais flexíveis), que permitem que ambos tenham mais tempo em casa. Isso seria bom para ambos, porque muitos homens que não conseguem ver seus filhos darem o primeiro passo, jogarem futebol, se arrependem mais tarde. Ao mesmo tempo, as pessoas deveriam ir em massa até seus empregadores e dizer: queremos ter famílias e queremos ser bons funcionários. Vamos conversar sobre como podemos fazer isso? Vale a reflexão!

Referências:

THE ECONOMIST. Claudia Goldin wins the Nobel prize in economics. Disponível em: https://www.economist.com/finance-and-economics/2023/10/09/claudia-goldin-wins-the-nobel-prize-in-economics. Acesso em: 16 jan. 2025.

 

THE ECONOMIST. Do greedy jobs cause the gender pay gap? Disponível em: https://www.economist.com/finance-and-economics/2021/11/06/do-greedy-jobs-cause-the-gender-pay-gap. Acesso em: 16 jan. 2025.

 

NOBEL PRIZE. Popular information: Claudia Goldin – Prize in Economic Sciences 2023. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/2023/popular-information/. Acesso em: 16 jan. 2025.

 

FOLHA DE S. PAULO. Trabalho ganancioso para os homens é o culpado por salários mais baixos das mulheres, diz economista. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/09/trabalho-ganancioso-para-os-homens-e-o-culpado-por-salarios-mais-baixos-das-mulheres-diz-economista.shtml. Acesso em: 16 jan. 2025.

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Vivian Sales

Médica intensivista, empreendedora e idealizadora da BrincAgora! Apaixonada pelo desenvolvimento infantil e pelo brincar livre, é mãe da Clara, sua maior inspiração. Com dedicação e cuidado, seleciona brinquedos educativos que unem diversão e aprendizado.